A Amazônia em meio à Pandemia

Autores

  • Diego Cristóvão Alves de Souza Paes

DOI:

https://doi.org/10.18361/2176-8366/rara.v12n1p1-3

Resumo

Você, prezado leitor, está no futuro. Portanto, possui uma visão privilegiada acerca dos efeitos e das consequências concretas da Pandemia causada pelo vírus Sars-CoV-2, o nome oficial do popularmente conhecido novo coronavírus. 

Nós, presos no tempo no mês de maio de 2020, observamos enquanto as pessoas ao redor do mundo foram roubadas de toda normalidade e aprendem a conviver com máscaras, anti sépticos, distanciamento, comunicação digital e muita incerteza. 

O que quatro meses atrás observamos como uma onda tão distante e que muito rapidamente se aproximou de nós, hoje causa perdas de vida e temor em todos os estados da região norte, com especial crueldade no Amazonas e no Pará. 

A dor da perda de amigos e familiares será acompanhada de uma crise econômica que irá permanecer por anos. Nossa economia está congelada no tempo com as restrições necessárias ao enfrentamento da crise. Mesmo com o controle da curva epidemiológica, medidas de controle sanitário rigorosas deverão ser impostas para evitar novo agravo da crise. Qualquer plano de retomada econômica deverá ser cuidadoso e não restaurará uma normalidade por um longo tempo. Pessoas com medo, não consomem; trabalhadores com medo, não produzem. 

Pela primeira vez em 30 anos o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) global está projetado para cair; o comércio internacional, que veio de uma década de desaceleração, irá despencar além do que na crise econômica global de 2008-09. Com a maioria esmagadora dos países prevendo queda no PIB, o Brasil, que já enfrentava uma lenta retomada econômica, agora prevê uma redução de 4,7% em sua economia. No contexto brasileiro, que ainda luta para domar a crise sanitária, não surpreenderá ninguém uma queda maior.  

Todos esses elementos globais apresentam repercussões reais no contexto amazônico. A vulnerabilidade dos países dependentes de cadeias globais para produtos básicos, como saúde ou alimentação, pode iniciar uma onda de protecionismo, incluindo incentivos à produção nacional ao redor do mundo. Como isso afetará as exportações de commodities da região norte, a Zona Franca de Manaus, e o preço de bens de consumo? Estas são questões que coloco à você, leitor no futuro. 

Nesse momento, estamos ocupados construindo o futuro. Essa edição da RARA, assim como todos os números anteriores, têm essa preocupação. Mostrar à comunidade acadêmica nacional e internacional as descobertas científicas sendo feitas no contexto amazônico, e nacional, e que colaboram em seu desenvolvimento econômico de forma sustentável.  

Nesta edição, Cleidimar da Silva Barbosa, Jean Marcos da Silva, Josiane Paula da Luz, Gabriela Leandro e Djenifer Bohn com o artigo Processo Produtivo do PFNM Pinhão das Araucárias: o caso do extrativista JDZ no Rio Grande do Sul, discutem a importância do modo de vida extrativista e do uso econômico sustentável das florestas, com repercussões positivas para famílias e a economia local. A ênfase no discurso desenvolvimentista levou, em muitos casos à decepção, algo que fica claro no artigo de Adila Maria Taveira de Lima, Mac David da Silva Pinto e Elineide Eugênio Marques Desenvolvimento Local em Municípios Impactados por Hidrelétricas: percepção dos atores sobre o processo de implementação e os efeitos pós-barragem. A ideia de que grandes projetos de infraestrutura na Amazônia levariam a um ciclo permanente de desenvolvimento se mostrou na melhor das hipóteses questionável, enquanto os efeitos sociais e geográficos geraram novas preocupações concretas. 

A busca por novas formas de orientar o pensamento acerca do desenvolvimento surge novamente nesta edição no artigo Green GDP Indicator: application in a Brazilian Foundry Industry (2008-2016), em que Ronaldo Leão Miranda e Gilberto Friedenreich dos Santos calculam o valor do PIB verde industrial do estado de Santa Catarina, contextualizando a importância desta ferramenta enquanto método de análise e de incentivo à adoção de medidas em prol da sustentabilidade. Esta mesma perspectiva é explorada em uma ótica micro, focada na empresa, por Rafael da Silva Moreira, Elói Jesus de Brito e Renato Abreu Lima no estudo A Importância da Contabilidade Ambiental para as Empresas, onde ressaltam a importância da contabilidade para o desenvolvimento da sustentabilidade no âmbito das empresas através da mensuração dos impactos e análise do impacto patrimonial de mudanças ambientais.

Dois artigos desta edição analisam o impacto das finanças públicas na educação. Em As implicações das desonerações impostas pela Lei Kandir sobre a educação básica no Estado do Pará: evidências de um paradoxo da abundância Marcelo Santos Chaves, David Costa Correia Silva e Charlene de Carvalho Silva analisam os impactos que o fim do ICMS causou na educação básica do estado do Pará a partir do paradoxo da abundância: mesmo a riqueza de recursos naturais no estado não se converteu em desenvolvimento no ensino básico. Já no artigo Gastos Públicos com Educação e Índices de Escolaridade Diante do Produto Interno Bruto (PIB) Municipais: uma análise para o estado do Rio Grande do Norte, William Gledson Silva, Mayara Fernanda Higino Siqueira e Jose Antonio Nunes analisam a influência dos gastos municipais com educação fundamental per capita na economia e nos indicadores de educação.

O crescimento da piscicultura nativa no Brasil tem refletido no aumento de publicações acerca do tema. Marlos Oliveira Porto, Janaiara Dutra de Oliveira, Jucilene Cavali, Jerônimo Vieira Dantas Filho, Newmar Tavares Dias Soares, Paulo Henrique Gilio Gasparotto e Elvino Ferreira no artigo Frequência Alimentar para Tambaquis Colossoma Macropomum (CUVIER, 1818) Cultivados em um Centro de Pesquisa Amazônico relatam o resultado de uma pesquisa empírica acerca de como otimizar a conversão alimentar através da manutenção de uma frequência alimentar regular. 

Dentre outros temas presentes nesta edição de amplo interesse, estão o artigo Educação Financeira: nível de conhecimentos dos alunos de uma instituição de Ensino Superior, João Batista Ferreira e Iara Maria Castro, em uma perspectiva de educação financeira, investigam o conhecimento dos alunos sobre a importância e ferramentas de controle financeiro pessoal em uma IES em Patos de Minas - MG. Reforçando a literatura de estratégia organizacional, Cristian Mateus Pereira Gabriel analisam a adoção de BSC nas empresas nacionais com o artigo O Avanço do Balanced Scorecard como Ferramenta de Gestão Estratégica dentro das Organizações. Olhando em direção ao futuro, Diego de Oliveira da Cunha, Laura Estela Madeira de Carvalho, Rita de Cassia Ribeiro Coelho, Leonardo Ferreira Bezerra, Clayton Pereira Gonçalves e Ely Severiano Junior investigam a penetração de tecnologias de inteligência artificial através do estudo Inteligência Artificial: um estudo sobre o estágio de adoção nas organizações brasileiras, apontando para um aumento da adoção destas ferramentas no país a partir de 2018.

A partir desta edição, a RARA conta com uma nova estrutura, que privilegia, além de artigos, casos para ensino e trabalhos técnicos-tecnológicos, ampliando o espaço para a publicação de novas contribuições ao tema de negócios na Amazônia. 

Estreando a seção técnico-tecnológico Osmar Siena, Clésia Maria de Oliveira e Aurineide Alves Braga nos brindam com o importante Manual para Elaboração e Apresentação de Trabalhos Acadêmicos: projeto, monografia, dissertação e artigo. Ainda como estreante na mesma seção, Julio Cesar de Souza Ferreira e Carolina Yukari Veludo Watanabe compartilham o relatório técnico Rondônia: crime florestal em números (2013-2018) contribuindo para o entendimento de uma problemática que gera conflitos e desfloresta cada vez esta região da Amazônia.

Em meio à Pandemia, podemos imaginar o futuro, com tratamentos e vacinas, e uma retomada econômica dolorosa, mas eventualmente de sucesso. Isso irá depender de planejamento sólido, ações concretas, união e cooperação entre trabalhadores, empresários, pesquisadores, sociedade civil e governo. A nós, no presente, cabe agir. E a você, leitor, dizer se tivemos sucesso ou não.

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Publicado

30-05-2020