A ENGENHARIA DA CULPA EM “DO AMOR E OUTROS DEMÔNIOS”: UMA VISÃO COLONIZADORA
DOI:
https://doi.org/10.47209/2238-7587.v.11.n.2.3991Resumo
“Do amor e outros demônios”, de Gabriel García Márquez, é uma história marcada por mistério, magia e feitiçaria, ambientada no Período Barroco, profundamente marcado pela influência que a igreja católica exerceu indiretamente sobre o poder civil no Ocidente católico. Objetivamos analisar como e para que os clérigos construíam um consuetudinarismo falacioso, que não partia das observações populares, e sim, de preconcepções geradas pela ignorância religiosa. Para tanto, buscaremos salientar como o autor aborda na narrativa assuntos como: ciência x metafísica, fanatismo religioso, feitiçaria, sortilégio, imperialismo religioso e a visão colonizadora da igreja.
Também pretendemos mostrar como a igreja desenvolve uma engenharia da culpa para justificar seus atos arbitrários, a partir da análise de como ela fabricou axiomas que sistematicamente violentaram princípios de humanitarismo. Avaliamos como a ciência, dentro da circunscrição eclesiástica, e o próprio empirismo, podiam ser tratados como algo demoníaco, antagônico em relação à ordem vigente. Empenhamo-nos em identificar como a narrativa retoma a tradição para navegar por questões de ordem mística, fantasiosa e religiosa e como nos instiga a pensar sobre valores inerentes à sociedade da época. Analisaremos determinados diálogos que demonstram como axiomas são construídos ao longo da narrativa e de que forma a igreja tinha o poder de influenciar e colonizar a vida das pessoas. Como a obra é ambientada no período barroco, usamos como base de compreensão ‘’Estudos sobre o barroco’’ de Helmut Hatzfeld (1988), ‘’La renovación poética del barroco’’ de Rafael Balbín (1991), ‘’1492: o encobrimento do outro: a origem do mito da modernidade’’ de Enrique Dussel (1993) e ‘’Desobediencia Epistémica: retórica de la modernidade, lógica de la colonialidad y gramática de la descolonialidad’’ de Walter Mignolo (2010).