Transfobia: Incessante Tortura

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Resumo

O objetivo deste artigo é discutir sob a ótica dos Direitos Humanos as incessantes violações que a comunidade trans (travestis, transexuais e transgêneros) sofrem de modo sistemático, estabelecendo-se um paralelo ao que é caracterizado pelo ordenamento jurídico como tortura. A Constituição Federal estampa em seu artigo 5º que ninguém pode ser submetido a tratamento vexatório, cruel ou degradante como também submetido a tortura, reafirmando que todo ato de tortura, ou outros tratamentos desumanos ou degradantes, ou mesmo penas cruéis, constituem séria ofensa à dignidade humana e uma negação dos princípios consagrados na Carta da Organização dos Estados Americanos e na Carta das Nações Unidas, e são violadores aos Direitos Humanos e às liberdades fundamentais proclamados na Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem e na Declaração Universal dos Direitos do Homem.  Outrossim, consagra também o direito à igualdade, todavia tal não é suficiente para garantia da equidade, respeito e tolerância.  O Brasil é o país onde mais pessoas trans são assassinadas no mundo, fato que por si só traduz a enorme abjeção que estas existências sofrem apenas por divergirem do padrão eurocêntrico hegemônico. Com efeito, a matriz colonial de poder embebida de medo, opressão e terror, termina por ser terreno fértil para vulnerabilização da comunidade trans, a impedir qualquer vivência dissonante pelo apagamento existencial, religioso, cultural, social e econômico.

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Biografia do Autor

Estevão Rafael Fernandes

Possui graduação em Ciências Sociais pela Universidade de Brasília (2002), mestrado em Antropologia pela Universidade de Brasília (2005) e Doutorado em Ciências Sociais (Estudos Comparados sobre as Américas) pela Universidade de Brasília (2015). Atualmente é professor do Departamento de Ciências Sociais e do Programa de Mestrado em Direitos Humanos e Desenvolvimento da Justiça da Universidade Federal de Rondônia. Também é professor colaborador dos Mestrados em História e Estudos Culturais da Universidade Federal de Rondônia e do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade Federal do Mato Grosso. Realizou doutorado sanduíche com bolsa Capes na Duke University (Carolina do Norte, EUA) sob orientação do Prof. Walter Mignolo, sendo pesquisador visitante no Center for Global Studies and the Humanities daquela Universidade. Publicou, juntamente com Barbara Arisi, o livro Gay Indians in Brazil: Untold Stories of the Colonization of Indigenous Sexualities pela editora Springer International Publishing (2017). Também publicou Existe índio gay?: a colonização das sexualidades indígenas no Brasil, pela Ed. Prismas (2017). Selecionado no Programa Craig M. Cogut Visiting Professorship in Latin American and Caribbean Studies (Watson Institute for International and Public Affairs) da Brown University (Fall, 2019). Atualmente edita a revista "Novos Debates", da Associação Brasileira de Antropologia. Tem experiência na área de Antropologia, atuando principalmente nos seguintes temas: Sexualidades indígenas, Decolonialidade, Etnologia indígena, Gênero, índios Xavante, Contato Interétnico, Cosmologia Indígena, Índios Jê, Educação e política indigenista.

Igor Veloso Ribeiro, Mestrando profissional Interdisciplinar em Direitos Humanos e Desenvolvimento da Justiça pela Universidade Federal de Rondônia (DHJUS/Unir/Emeron).

Cursando Master in Business Administration em Parcerias Público-Privadas e Concessões na Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP). Pós-graduado lato sensu em Direito Público pelo Centro Unificado de Teresina (CEUT). Bacharel em Direito pelo Instituto Camilo Filho (ICF). Procurador do Estado de Rondônia. Advogado.

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Publicado

01/08/2019

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Artigos